terça-feira, 12 de março de 2013

à meu avô

antes
Certa vez, tivemos que cortar uma velha árvore que ficava na frente da minha casa. Nunca pude imaginar, a rua da minha casa sem aquela grande árvore que acompanhou toda a minha formação. Mas agora ela estava velha.
  Perguntava-me "Será que ela estava sofrendo, seca daquele jeito?" 
no fim
  Meu pai pensou corta-la, estava fazendo bagunça demais, e ameaçava cair em cima da casa.  As folhas que caiam dela eram numerosas, invadiam o interior da casa como um turbilhão verde. A empregada não gostava, porque sujava demais. 
  Chegou o dia do corte.
   Começamos a cortar o tronco - cuidadosamente estudado o ângulo -, porém algo interrompeu. Não tínhamos o documento da prefeitura. O fiscal interrompeu o corte.

   "Apenas o Estado deve fazer o corte de árvores próximas a calçada, a ele também pertence a madeira" disse o fiscal.
   A árvore passou décadas conosco, nós cuidamos dela, fizemos mutirões de limpeza nos finais de semana para cuidarmos da árvore, podávamos ela quando precisava, arrancávamos as ervas daninhas que cresciam em suas raízes. Mas de fato chegou a hora de ela partir. Porém não podíamos tirar seu sofrimento, pois o Estado se acha dono de tudo e de todos.
O Estado, como a maioria das Instituições, se acha dono de tudo, até das estrelas. O livro O Pequeno príncipe, de Antoine de Saint[que é parcialmente reproduzido aqui] mostra bem o pensamento desse empresário.

Era uma vez um empresário.
Era uma vez um pequeno e jovem príncipe príncipe.


Um jovem príncipe saiu de seu pequeno asteroide a fim de descobrir o mundo afora. Chegou a um pequeno planeta. Neste planeta havia um empresário, que pensava ser dono de todas as estrelas. 



 O quarto planeta era o do homem de negócios. Estava tão ocupado que não
levantou sequer a cabeça à chegada do príncipe.
- Bom dia, disse-lhe este. O seu cigarro está apagado.
- Três e dois são cinco. Cinco e sete, doze. Doze e três, quinze. Bom dia. Quinze e
sete, vinte e dois. Vinte e dois e seis, vinte e oito. Não há tempo para acender de novo.
Vinte e seis e cinco, trinta e um. Uf ! São pois quinhentos e um milhões, seiscentos e
vinte e dois mil, setecentos e trinta e um.
- Quinhentos milhões de quê?
- Hem? Ainda estás aqui? Quinhentos e um milhões de... eu não sei mais ... Tenho
tanto trabalho. Sou um sujeito sério, não me preocupo com ninharias! Dois e cinco, sete...
- Quinhentos milhões de quê? repetiu o principezinho, que nunca na sua vida
renunciara a uma pergunta, uma vez que a tivesse feito.
O homem de negócios levantou a cabeça:
Há cinqüenta e quatro anos que habito este planeta e só fui incomodado três vezes.
A primeira vez foi há vinte e dois anos, por um besouro caído não sei de onde. Fazia um
barulho terrível, e cometi quatro erros na soma. A segunda foi há onze anos, por uma
crise de reumatismo. Falta de exercício. Não tenho tempo para passeio. Sou um sujeito
sério. A terceira... é esta! Eu dizia, portanto, quinhentos e um milhões...
- Milhões de quê?
O homem de negócios compreendeu que não havia esperança de paz:
- Milhões dessas coisinhas que se vêem às vezes no céu.
- Moscas?
- Não, não. Essas coisinhas que brilham.
- Abelhas?
- Também não. Essas coisinhas douradas que fazem sonhar os ociosos. Eu cá sou
um sujeito sério. Não tenho tempo para divagações.
Ah estrelas?
- Isso mesmo. Estrelas.
- E que fazes tu de quinhentos milhões de estrelas
- Quinhentos e um milhões, seiscentos e vinte e duas mil, setecentos e trinta e uma.
Eu sou um sujeito sério. Gosto de exatidão.
- E que fazes tu dessas estrelas?
- Que faço delas?
- Nada. Eu as possuo.
- Tu possuis as estrelas?
- Sim.
- Mas eu já vi um rei que ...
- Os reis não possuem. Eles "reinam" sobre. É muito diferente
- E de que te serve possuir as estrelas?
- Serve-me para ser rico
- E para que te serve ser rico?
- Para comprar outras estrelas, se alguém achar.
Esse aí, disse o principezinho para si mesmo, raciocina um pouco como o bêbado -
No entanto, fez ainda algumas perguntas.
Como pode a gente possuir as estrelas?
De quem são elas? respondeu, ameaçador, o homem de negócios
- Eu não sei. De ninguém.
- Logo são minhas, porque pensei primeiro.
- Basta isso?
Sem dúvida. Quando achas um diamante que não é de ninguém, ele é teu. Quando
achas uma ilha que não é de ninguém, ela é tua. Quando tens uma idéia primeiro, tu a
fazes registrar: ela é tua. E quanto a mim, eu possuo as estrelas, pois ninguém antes de
mim teve a idéia de as possuir.
Isso é verdade, disse o principezinho. E que fazes tu com elas?
Eu as administro. Eu as conto e reconto, disse o homem de negócios. É difícil. Mas
eu sou um homem sério!
O principezinho ainda não estava satisfeito.
Eu, se possuo um lenço, posso colocá-lo em torno do pescoço e levá-lo comigo. Se
possuo uma flor, posso colher a flor e levá-la comigo. Mas tu não podes colher as
estrelas.
Não. Mas eu posso colocá-las no banco.
Que quer dizer isto?
Isso quer dizer que eu escrevo num papelzinho o numero das minhas estrelas.
Depois tranco o papel a chave numa gaveta.
- Só isto?
- E basta...
É divertido, pensou o principezinho. É bastante poético. Mas não é muito sério.
O principezinho tinha, sobre as coisas sérias, idéias muito diversas das idéias das
pessoas grandes.
- Eu, disse ele ainda, possuo uma flor que rego todos os dias. Possuo três vulcões
que revolvo toda semana. Porque revolvo também o que está extinto. A gente nunca sabe.
É útil para os meus vulcões, e útil para a minha flor que eu os possua. Mas tu não
és útil às estrelas ...
O homem de negócios abriu a boca, mas não achou nada a responder, e o
principezinho se foi ...
As pessoas grandes são mesmo extraordinárias, repetia simplesmente no percurso
da viagem.


  O Empresário gosta de vender e comprar. Tudo isso ele faz com o dinheiro. Dinheiro é feito de papel, papel vem das árvores. Os homens cortam árvores afim de conseguir dinheiro, para enfim serem escravizados. 
 Acho as árvores mais bonitas que o dinheiro, mas esse lindo quadro[as árvores] não servem de moeda de troca, não serve de "progresso". 
  As árvores são belas ao meu ver. Porém quando secam[como a antiga árvore que ficava em frente a minha casa], perdem a beleza, não fazem mais a alimentação dos olhos. Logo temos que corta-las, afim de plantar outra. Assim é o ciclo das coisas efêmeras - finitas -, mas é triste quando não se pode fazer o melhor para quem a gente ama quando finda a vida. Esse é o papel das corporações, espalhar infelicidade, limitar a liberdade. Provavelmente você deve ter achado fútil o assunto focalizado na árvore sobre qual estou escrevendo, na verdade, você perdeu a visão de toda a beleza que existe ao seu redor, você não vê, você julga segundo o que você aprendeu. 
 Um conjunto de corporações fizeram isso em você. Olhe o esquema a seguir:

    Escola                +              TV              +    Preconceitos          =   Indivíduo fútil
  [agente desestimulante             [meio que torna                     [inúmeros]
   da criatividade]                       até o mais belo, fútil]  


Com meu avô[Vergílio Novak]  aconteceu a mesma coisa, ele era uma árvore, fizemos mutirões, cuidávamos dela. Não pudemos corta-lo[dar fim a vida] quando ele teve derrame e entrou em estado vegetativo. Um conjunto de médicos[da corporação hospital] impediram que isso acontecesse.
  

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Queremos mais que o Paraíso

Cheguei a conclusão de que é impossível não julgar alguém de primeira vista. É impossível não ter um preconceito. Etimologicamente, a palavra "preconceito" significa:

preconceito: pre; prefixo antes. conceito; conceito é baseado em coisas que você já viu ou que conhece para poder comparar com outras coisas.

É impossível você olhar para um referencial sem julga-lo. Por exemplo, nessa foto:



Eu não conheço quem tirou esta foto, não conheço o local onde a foto foi tirada, mas sei que a árvore em questão se trata de uma Jabuticabeira. Por que eu sei disso? 
Um preconceito me possibilita julgar esta árvore como sendo uma Jabuticabeira.
A aquisição desse preconceito se dá através de um julgamento segundo um conceito armazenado em minha memória. As Jabuticabeiras me lembram a doçura da minha infância, onde eu ia comer a gostosa fruta direto do pé.
 É portanto impossível olhar para um referencial sem julga-lo, porém é possível não julga-lo mal, isso certamente depende da índole e do altruísmo de cada um. 
Julgar é bom! Adjetivar é bom! O que seria nossa Literatura sem os "Olhos de cigana oblíqua e dissimulada" ou "GraçasMarília bela, Graças à minha Estrela!" 

Minha Tia Lisiane, famosa na nossa família por suas teorias da conspiração, certa vez apresentou uma afirmação. Disse ela: "O Jardim do Éden continua aqui, nós é que não vemos", desta vez tive que concordar com ela. 
Penso que o Poema da Criação quer dizer que, no início, os homens apenas olhavam, sem julgar. Tudo era bonito, não era preciso ter, era preciso ver. A própria beleza já os alimentava, para que fazer uma luxuosa casa paradisíaca se o mundo todo é uma luxuosa casa paradisíaca?
Porém veio a serpente, que mostrou O quarto escuro de Deus, a desigualdade. Vendo quanto era desigual o mundo de Deus e o Jardim que eles viviam, logo eles sentiram inveja. A inveja é um mal que corrói. Tudo que antes era bom já não se torna mais bom, o do outro é melhor. Depois da inveja veio a vergonha, vergonha é na verdade, o que nós sentimos quando pensamos que o outro está rindo por dentro por causa de nossas atitudes. O outro pode nem estar julgando um preconceito mau de você, mas a mente prega peças, por isso que a vergonha é um bom método de controle social.
  A vergonha fez com que os primeiros homens abandonassem a nudez, e se cobrissem com vestimentas.
  O Paraíso está espalhado pelo mundo, mas para nós não basta apenas o Paraíso. Queremos cultura, queremos artes, queremos lampadas, queremos TV's, queremos PC's, queremos mais do que o Paraíso pode nos oferecer. 
 A mídia promove essa inveja, por exemplo, eu tenho uma TV de LCD no meu quarto. Quando lançou as TV's de LCD eu comprei. Eu estava satisfeito. Porém logo lançaram uma nova TV, fazendo com que o televisor que eu tenho perder o prestígio que antes tinha. Agora a mídia está lançando uma nova propaganda, a propaganda [re]pense, que deixa explicito isso:


Colocando um ícone de garoto propaganda, o anúncio chama atenção. Depois o comando de voz, a espessura, o design são aparentemente melhores que o do meu televisor.
agora o slogan da propaganda: [re]pense.
O prefixo "re" está escrito dentro do colchete, fazendo com que o uso seja opcional, pense significa compre(pensar em comprar). O anúncio está descaradamente mandando comprarmos outra TV, mesmo que tenhamos comprado uma recentemente.  A propaganda com o  comando celular-TV pretende fazer com que compremos não só o televisor da marca em questão, mas também o celular da mesma marca.


Definitivamente, o Paraíso é invisível quando se tem tranqueiras demais.
A Felicidade se alimenta de beleza e não de produtos.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

O reflexo da alma de Deus

    


Certa vez algo enfezou o meu cachorro, Bertoldo . Estalamos blindex na porta que dá acesso a cozinha. Ele pôs-se a latir para o seu reflexo na porta. O que ele estaria a pensar? "Intruso! Como se atreve a invadir meu território! Você não conhece as regras dos cachorros? Este é o meu espaço! Sai daqui!". Pouco adiantaram as latidas, o intruso não saia, e ainda por cima latia também, enfezado, meu cachorro partiu para o ataque. Porém o outro cachorro era rápido, dava patadas e mordidas tão rápidas quanto as  dele. Logo Bertoldo deu uma cabeçada no vidro(que por sinal doeu) e se deu por vencido.
    Então eu concluí. Cachorros não sabem o que são espelhos.
    Mas cachorros aprendem o que são espelhos, pois logo ele ignorou a presença da superfície refletora.

Nem todo mundo sabe o que são espelhos. Olhe os Índios em 1500, ao verem um espelho, pensaram que tal objeto mágico lhes tinha roubado a face. As vezes os espelhos também nos assustam. Quando sentimo-nos humilhados, em outras palavras, nos sentimos "pequenininhos", o espelho nos assusta e nos dá raiva. Por tanto, os espelhos também refletem a nossa alma, o nosso interior.
A Fantasia é o espelho da alma. Olhe o exemplo Van Gogh, sonhando(no mundo da fantasia), ele pintou A noite estrelada.


    A noite estrelada é um reflexo da alma, não vem de fora, vem de dentro do artista, por que pintar o mundo de fora, que já existe? Pinte o mundo que está dentro de você! Isso foi o que fez Van Gogh. Muitas pessoas sentem-se encantadas com os reflexos da alma e se comportam igual ao Bertoldo[meu cachorro], confundem imagens com realidade, estas pessoas são loucas.
   A mesma coisa acontece com a religião. A religião é um reflexo das coisas que existem dentro da alma de Deus. Deus quer transmitir emoções, e não dizer se a terra gira em torno do Sol, pois isso é irrelevante para o crescimento espiritual de cada um. Desconhecendo desse fato, algumas pessoas[assim como o meu cachorro] confundem o físico com o espiritual.
Gênesis é chamado de Poema da Criação. Algumas pessoas leem o Poema da Criação e pensam que eles tratam de descrições objetivas, pensam que realmente aconteceu daquele jeito. Mas os cientistas não tem as verdades que essas pessoas querem, então logo começa a briga de Religião contra a Ciência.
  A Ciência é sim o reflexo do mundo de fora, a bíblia é o reflexo das intenções de Deus para nós.
A sua religião é o  retrato da sua alma. Conte-me sobre sua religião e eu te direi como é a sua alma.
É importante salientar que:

Religião  Igreja 

Religião é aquilo que você entende da mensagem de Deus e tenta viver isso. Igreja é o templo que você frequenta.

Se você quer ser espiritual, abra seus olhos e ande pelo jardim, olhe o universo inteiro que Deus criou, quem sabe assim você esquece do seu reflexo.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Não há ato mais infame do que roubar




Gostei muito do livro de  Khaled Hosseini, famoso escritor do livro o Caçador de Pipas, Livro que além de muito envolvente, é de fato uma boa leituraMas definitivamente uma parte que me fez questionar, um diálogo entre Baba e seu filho Amir. Este aqui:

Estávamos no escritório de baba, a tal "sala de fumar", quando eu lhe disse o
que o mula Fatiullah Khan tinha nos ensinado na aula. Baba estava se servindo de
uísque no bar que tinha mandado fazer no canto da sala. Ele me ouviu, assentiu com a
cabeça, tomou um gole da bebida. Depois sentou no sofá de couro, deixou o copo de
lado e me pôs no colo. Senti como se estivesse me sentando em um par de troncos de
árvore. Respirou fundo, exalou pelo nariz e o ar pareceu ficar assobiando em seu
bigode por uma eternidade. Eu não conseguia decidir se queria abraçá-lo ou pular fora
do seu colo, apavorado.
— Pelo que vejo, você está confundindo o que aprende na escola com a educação
de fato — disse ele com aquela sua voz grave.
— Mas se o que ele disse é verdade, você não é um pecador, baba?
— Humm. — Baba trincou um cubo de gelo com os dentes. — Quer saber o
que seu pai acha sobre essa história de pecado?
— Quero.
— Pois então vou lhe dizer, mas, primeiro, entenda bem isso, e entenda de uma
vez por todas, Amir: você nunca vai aprender nada que preste com esses idiotas
barbudos.
— Você quer dizer o mulá Fatiullah Khan?
Baba fez um gesto, com o copo na mão. O gelo tilintou.
— Eles todos. Estou cagando para as barbas de todos esses macacos hipócritas.
Comecei a rir. A imagem de baba cagando na barba de qualquer macaco,
hipócrita ou não, era demais...
— Tudo o que sabem fazer é ficar desfiando aquelas contas de oração e
recitando um livro escrito em uma língua que às vezes nem entendem — prosseguiu
ele, tomando mais um gole de uísque. — Que Deus nos proteja se algum dia o
Afeganistão cair nas mãos dessa gente.
— Mas o mulá Fatiullah Khan parece legal — consegui balbuciar tentando conter
o riso.
— Gengis Khan também — disse baba. — Mas chega desse assunto. Você
perguntou sobre pecado e quero lhe dizer o que penso a este respeito. Está me
ouvindo?
— Estou — disse eu apertando os lábios. Mas o riso escapou pelo meu nariz
fazendo um barulho que parecia um ronco. O que me fez recomeçar.
Os olhos duros de baba se fixaram nos meus e bastou isso para eu parar de rir.
— Estou tentando falar com você de homem para homem. Será que ao menos
uma vez na vida consegue dar conta disso?
— Consigo, baba jan — murmurei espantado, e não pela primeira vez, ao ver
como ele podia me atingir com tão poucas palavras. Por um instante, tínhamos tido
um momento maravilhoso. Não era sempre que meu pai conversava comigo, e menos
ainda me sentava em seu colo. E fui um idiota em estragar tudo.
— Ótimo — disse baba, mas os seus olhos não demonstravam lá muita convicção.
— Pouco importa o que diga esse mulá; existe apenas um pecado, um só. E esse pecado é
roubar. Qualquer outro é simples mente uma variação do roubo. Entende o que estou
dizendo?
— Não, baba jan — respondi querendo desesperadamente entender. Não gostaria
de desapontá-lo de novo.
Baba soltou um suspiro de impaciência. O que também me atingiu, pois ele não era
um homem impaciente. Lembrei de todas as noites em que chegou bem tarde, todas
aquelas noites em que tive de jantar sozinho. Perguntava a Ali onde baba estava, a
que horas ia voltar para casa, embora soubesse que ele estava na obra, inspecionando
isso, supervisionando aquilo. Não era algo que exigia paciência? Cheguei a odiar
todas as crianças para quem ele estava construindo o orfanato; por vezes desejei que
todas elas tivessem morrido junto com seus pais.
— Quando você mata um homem, está roubando uma vida — disse baba. — Está
roubando da esposa o direito de ter um marido, roubando dos filhos um pai. Quando
mente, está roubando de alguém o direito de saber a verdade. Quando trapaceia, está
roubando o direito à justiça. Entende?
Eu tinha entendido sim. Quando baba tinha seis anos, entrou um ladrão na
casa de meu avô, no meio da noite. Meu avô, um juiz conceituado, reagiu ao assalto,
mas o ladrão o esfaqueou na garganta, matando-o instantaneamente — e roubando de
baba o seu pai. Os moradores da cidade apanharam o assassino na manhã seguinte,
pouco antes do meio-dia; era um vagabundo da região de Kunduz. Enforcaram o
homem no galho de um carvalho quando ainda faltavam duas horas para as preces da
tarde. Foi Rahim Khan, e não baba, quem me contou essa história. Aliás, eu sempre
ficava sabendo das coisas sobre meu pai por outras pessoas.
— Não há ato mais infame do que roubar, Amir — prosseguiu ele. — Um
homem que se apropria do que não é seu, seja uma vida ou uma fatia de naan...
Cuspo nesse homem... E se alguma vez ele cruzar o meu caminho, que Deus o ajude.
Está entendendo?
Achei a idéia de meu pai espancando um ladrão engraçadíssima, mas, ao mesmo
tempo, assustadora.
— Estou, baba.
— Se existe mesmo um Deus, em algum lugar por aí, espero que ele tenha coisas
mais importantes para fazer do que se preocupar com o fato de eu beber uísque ou
comer carne de porco.

Somente os Santos não são ladrões. A partir do momento que você comete um desvio você está roubando.A diferença é básica entre desvio e crime é que, crime é algo ilegal e imoral é algo punível por lei. Desvio é apenas imoral. Atropelar pedestres é crime. Atravessar fora da faixa de pedestres é desvio. 
 Khaled Hosseini consegue nesse questionamento, colocar crime e desvio no mesmo patamar, o de pecado.
Então logo, somente os Santos não são ladrões.


     

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

O quarto escuro de Deus

Era uma vez, um sultão.
Era uma vez sua amada.
Foi uma vez...


Um sultão, daqueles que vivem na Índia. Ele já tinha seus quarenta anos, vestia-se sempre com seu linho branco, já havia vivido muito e construído um luxuoso palácio, se apaixonou por uma humilde comerciante de frutas. Todos os dias, sobre os seus cabelos dourados ela trazia frescas frutas para o palácio. O amor contagiou os dois e eles se casaram.
    Doce  amor bonito era o do casal, quando um olhava para o outro a aura amorosa resplandecia.
O negócio que movia a cidade era o cultivo de grãos, as negociações de venda de estoque deveriam ser analisadas a cada dez anos, uma contabilidade de impostos era feita a cada sete anos, para assim realizar o reajuste dos mesmos, pois eram os impostos que mantinham todo o luxuosos palácio, famoso por sua perfeição que tinha cem luxuosos quartos.
 Era já tempo de tal contabilidade ser feita.
  O lugar onde iria partir o sultão era distante e demorava dias para a volta da viagem. Antes de partir, o sultão tomou de seu cofre particular um molho de chaves o deu para a sua esposa. O molho tinha cem chaves, noventa e nove delas eram de ouro, uma era de ferro enferrujado - chave que parecia ser vitalícia.
  Ele disse que a esposa poderia abrir os noventa e nove quartos que tinham chave de ouro, porém aquele que tiver chave de ferro a esposa não deve abrir.
  A esposa abriu os noventa e nove quartos, alguns quartos eram dormitórios dos mais variados, alguns guardavam relíquias antigas e curiosas, alguns guardavam papiros de um conhecimento avançado. Demoraram quatro dias para ter aberto o nonagésimo nono quarto, depois disso ela não hesitou, abriu a velha porta de madeira vermelha  do centésimo quarto, aquele que a chave de ferro abria.
O que ela encontrou no centésimo quarto era de um cenário desolador e horripilante. Uma fera devorando um carneiro. Um grande lobo negro de olhos vermelhos em forma de homem vestido de linho branco devorando um ensanguentado carneiro.
  Quando a fera olhou para a mulher, seus olhos se encheram de sangue e de ódio.
A mulher desesperadamente agarrou a porta e trancou-la. Ela foi correndo para a sua cama e não conseguiu dormir sem que um pesadelo lhe afrontasse.
Percebeu que a fera era o seu marido, pois as feições no rosto, a roupa, os olhos, indicavam.
Logo de manhã, o marido voltou para casa. O olhar amável da esposa não era mais o mesmo, quanto ela pensava no marido, automaticamente vinha-lhe a imagem do lobisomem de olhos vermelhos. O amor acabou, a alegria se foi para a esposa.
O Sultão pediu a esposa as chaves que ele havia lhe dado. Estavam todas as cem chaves ali, mas uma chave estava diferente, uma chave estava manchada, manchada de sangue. Percebendo isso, o Sultão caiu em prantos, sua amada não mais lhe amava, pois descobriu o quarto escuro de sua alma.


Todos nós somos assim. Todos temos um quarto escuro em nossa alma, na esperança de querer esconde-lo, mentimos até para nós mesmos. mas esse quarto sempre permanecerá.

Penso que até com Deus é assim, apenas uma arvore não se podia desfrutar no paraíso, apenas um conhecimento não se pode ter, o da desigualdade. A serpente seduziu o homem a comer o fruto com o argumento de que "se você comer do fruto, será igual a Deus", vendo a desigualdade, ele comeu do fruto , comendo o fruto ele viu que Deus não andava nu, sentiu inveja de Deus.
   A desigualdade é o quarto escuro de Deus, por mais que ele nos ame, ele não pode esconder as desigualdades, ele pode ameniza-las, mas não consegue acabar com elas. Ele quer, mas é impossível, pois se não somos iguais, logo somos desiguais.
Apenas depois da morte podemos consumir com a chave de tal quarto, poderemos pular nos braços de Deus e ter a felicidade plena. Muitos dirão que "existe inferno, há uma seleção chamada juízo final", mas essas pessoas que afirmam essas coisas são as mesmas que fazem todo um teatro em cima do dinheiro do povo, essas pessoas não são abertas a outras opiniões, é o que elas dizem e pronto.
  Sinceramente, um Deus que tem uma câmara de tortura chamada inferno não merece minha adoração, e acredito que não tem nenhum amor para dar.
  Acredito que Deus é na verdade a beleza. Deus está tanto no voar de uma ave de rapina quanto em toda a desigual luta de poder na natureza. A beleza está na em apenas tons azuis e brancos? Não. Ela está no resplandecente por do sol, está no azul e no cinza do céu. O que seria do mundo se ele fosse apenas azul, ou cinza?






   

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Coma uma cebola ou desista!


  
 Uma vez em uma universidade federal, o setor Artístico resolveu inovar. Foi criado um curso de culinária voltado a arte de cozinhar, explorando ao todo o sentido da degustação. 
    O curso ensinava a arte de degustar e formular bolos, tortas dos mais variados tipos e sabores. Os alunos saiam do curso apaixonados pela arte de cozinhar, pois o professor tratava a culinária como arte.
    Porém, estudiosos do assunto afirmaram que o curso não era digno de “academicidade” que eles queriam. Para isso instauraram um novo modelo de entender o “prazer da degustação”, partiram do princípio que para realmente degustar os deliciosos bolos e tortas é preciso começar do princípio, pois nada começa do fim. Na primeira lição, os alunos deveriam passar por intensas seções de mastigação de vegetais crus como alhos, cebolas, repolhos, nabos, cenouras e mandiocas. Essa primeira lição causou neles uma aversão ao curso, consequentemente a “arte de cozinhar”.
    Houve mesmo até casos de morte pela fome, tiveram tamanha aversão a comida que até a simples contemplação dos talheres causava neles ânsia de vômito.
Infelizmente o curso de culinária teve de ser fechado, nenhum aluno passou na primeira lição.

    Se a arte de produzir sabores é a culinária, a arte de produzir melodias é a música então a arte de produzir maravilhosos textos literários é o Português.
Não se deve introduzir análise sintática a alunos que ainda não provaram as “delícias literárias”, como ensinar o que é sinestesia sem o aluno ter lido os textos de Cruz e Souza e outros autores? 
O problema é que  Nosso ensino está contaminado por Raposas, que preferem classificar em vez de explorar a criatividade.
Por exemplo, você sabe os motivos que acarretaram a Guerra dos Cem Anos?
Eu sei. Como isso se torna útil na minha vida? Não sei.
Isso acontece com inúmeros conteúdos. 
Como o ensino médio agora é obrigatório,a base da sociedade tem que conclui-lo. Conteúdos como Radioatividade, Capitanias hereditárias, Combinatória, Logaritmos, Dilatação térmica, entre outros podem ser úteis para borracheiros, empregadas domésticas, balconistas, empacotadores, entre outros serviços da base da sociedade?

A sociedade não é feita apenas de engenheiros...

Minha mãe é professora universitária. Ouço várias vezes de seus colegas docentes: “Não vou me rebaixar ao aluno, ele que tem que subir ao meu nível”. Nesta hora eu penso “qual a verdadeira função do conhecimento que nos é ensinado?”.

Creio que deveriam ser feitas as seguintes perguntas aos professores...
...do ensino médio e fundamental: “Qual o primeiro prato que você vai dar aos alunos?”
...do ensino superior: “Você gosta dos seus alunos?”.


As crianças criativas entram. Adultos idiotas saem.  





sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Raposas, sempre Raposas...

Professores universitários públicos recebem salários exorbitantes, em contraposição, professores da rede estadual e municipal recebem salários baixos. Muitos acreditam que uma iniciativa governamental deveria ser tomada para subir o salário dos professores da rede municipal e estadual. Porém a situação não é tão simples assim, o problema da educação é bem mais complexo que isso. Começamos desde a formação inicial do docente:

  • Ensino Fundamental e Médio

Preparando-se para o ingresso na universidade, o estudante é submetido ao ultrapassado sistema VESTIBULAR, onde ele decora fórmulas e teorias de Física e Matemática de forma "gastronômica"(engolindo o vômito do professor)  sem questionar entender as teorias. Em História e Geografia, ele aprende a separar os mocinhos dos bandidos, o explorador do explorado, e entre outras mentiras. Pouco se aproveita em Gramática, pois o aluno está mais preocupado em "não fazer feio na hora da leitura em coro", ou estudar a complexa "gramática morta" que assombra a criatividade dos alunos. 

  • Universidade (cursando)
Depois de estudado ao máximo para passar no VESTIBULAR, finalmente o estudante consegue se realizar. Mas ele pouco sabe sobre o que o aguarda.
Os seus professores irão se esforçar o máximo para tornar seu processo de "aprendizado" o pior possível. Uma forma dogmática de ensinar será introduzida. O docente pouco irá se preocupar com o que está passando para seus alunos, o principal foco dele é "mostrar que sabe mais que os alunos", questionamentos não serão aceitos de maneira alguma. O aluno universitário é bombardeado de trabalhos difíceis, os quais o professor apenas irá passar os olhos, critérios como aparência terão mais peso que o conteúdo do trabalho. São assim as aparências, o aluno finge que aprende, o professor finge que explica. 

Tudo que os alunos querem é passar na disciplina, e fazem qualquer coisa para isso.

Para ilustrar o assunto trago aqui uma situação a qual uma conhecida minha passou:

Ela estava cursando Agronomia em uma universidade pública(a qual não desejo nomear). Em uma matéria relacionada a Física, ela conheceu um infeliz professor. No dia a dia, nas aulas, os alunos se esforçavam inutilmente para passar na disciplina, os trabalhos não foram entregues(medida para desestimular os alunos bons, pois os alunos bons aprendem com os seus erros), o professor "avaliou" com critérios vindos do além, os alunos tiraram todos notas abaixo da média. Com as provas foi o mesmo caso, elas não foram entregues. 
Logo começou a tortura, o exame(prova de recuperação de nota) foi totalmente inteligível, questões impossíveis de fazer, não havia correção, o docente nem lia as respostas. Na última semana, findados o exames, começa a chantagem. O professor chegou a abusar dela dizendo: "Transa comigo que você passa".
Ela não aceitou tal oferta e resolveu denunciar. Mas nada conseguiu, pois como lutar com velhas raposas?
Infelizmente ela teve que abandonar esse curso. Fazer faculdade particular não dava, ela ganhava pouco, o jeito foi abandonar o seu sonho de vida.


Esse medo de reprovação ocorre na maioria de nossas universidades públicas, e os professores além de avaliarem mal os seus alunos, possuem aulas extremamente ruins. Alguns cartazes estão sendo espalhados no campus da UFPR, que dizem:

Professor de universidade pública tem seu emprego garantido, 

independentemente da qualidade de suas aulas.
(frase retirado do blog Adonai Sant'Anna)

O que é absolutamente verdade, o cartaz não critica nada, ele apenas mostra a verdade. 

  • Lecionando
Após todo esse doloroso processo, o novo professor começa a lecionar. Normalmente quem faz Humanas volta com o "espírito de revolução", querendo mudar tudo e todos, mas essa iniciativa é logo nocauteada com o "baque de realidade", conhecendo assim as escolas públicas, logo ele tenta fazer de suas aulas as aulas "dinâmicas", iniciando assim o "ensino gastronômico"(o qual eu falei anteriormente no primeiro tópico). 
Já nas exatas, os novos professores também sofrem o "baque de realidade", fechando-se totalmente a questionamentos, esses professores não conhecem nada de novo, qualquer questionamento é tido como "retardice" do aluno.

Visitem o Blog do professor Adonai Sant'Anna,  concordo com ele em alguns pontos, ele é um dos poucos que deseja mudar essa situação: